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quinta-feira, 30 de abril de 2009

Conheça Carlos Wizard

"Ele é mórmon, escreveu livro de autoajuda e criou a maior rede de escolas de idiomas do mundo"

"A posse de riquezas não se constitui necessariamente em um pecado. Porém, ele pode surgir na aquisição e no uso da fortuna. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda espécie de males (...) Se as pessoas usassem riquezas para bons propósitos, poderiam continuar a desfrutar prosperidade." O "bom" enriquecimento, como força motora da evolução humana, tinha a sua defesa explícita em O Livro do Mórmon, obra que se tornou "o mais correto de todos os livros na Terra", segundo a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, nome oficial da religião dos mórmons. Ganhar dinheiro é permitido, com bom senso e prudência. "Para entrar no reino dos céus, não faz diferença ser rico ou não. O lucro é algo aceito para nós", completa Carlos Roberto Martins, 52 anos, pai de seis filhos e casado há três décadas. Foi seguindo esses conceitos que Martins, mórmon desde a juventude, criou a maior rede de ensino de idiomas no mundo, a Wizard. A paixão pelo negócio é tamanha que o empresário incorporou a marca da rede ao próprio nome. Controlado pelo grupo Multi (dono de outras redes de línguas), o império de Martins possui duas mil unidades no Brasil e no Exterior e prevê faturar R$ 1,2 bilhão em 2009, 20% a mais que em 2008. Para ele, que embolsa a receita como franqueador, são previstos R$ 120 milhões neste ano. "Meu sonho é o reconhecimento do meu trabalho. Ninguém é maior que nós", diz.

O empresário conheceu a religião na adolescência, quando viajou para os Estados Unidos para tentar "ganhar a vida", como ele diz. Conseguiu pagar a passagem para nova York em dez parcelas de us$ 100 e, chegando lá, fez bicos em restaurantes e supermercados. decidiu então se mudar para portugal aos 19 anos, para conhecer a religião mórmon mais de perto, após breve contato com a igreja quando criança em Curitiba, sua cidade natal. Três anos depois, e de volta aos E.U.A., tornou-se instrutor do centro de treinamento de idiomas da Brighan Young university, em utah, maior centro mórmon dos E.U.A. Lá, se cultiva o que os universitários chamam de "spirit Y" - servir a deus e aos outros com amor e devoção. isso sem deixar de contribuir para a igreja - 10% dos rendimentos ao ano. e dá para ter sucesso e seguir os ensinamentos (com o perdão da palavra) a ferro e fogo? "É preciso acreditar naquilo que se faz. É uma questão de visualizar o que se quer. Tudo que está aqui (ele aponta para a caneta e o papel à sua frente) foi pensamento do Criador e se materializou", diz Martins, durante entrevista numa das escolas. É a mesma visão apresentada em sua obra Vencendo a própria crise, espécie de livro motivacional, publicado em 2001.

"Não corra o risco de passar seus dias apenas afinando o seu instrumento, sem jamais fazer o seu grande espetáculo", escreve ao leitor.

A princípio, a crença em si mesmo é pouco visível na forma como o empresário se comporta. A postura religiosa contrasta com a atitude racional desenvolvida em anos de trabalho. "ele não tem nada de carismático nem arrasta multidões. Mas o jeito centrado mexe com as pessoas", diz um executivo que trabalha com ele há dois anos. o respeito é reflexo das conquistas. ele transformou o negócio com único ponto numa máquina de franquias e aquisições. no final dos anos 80, já no Brasil e morando em Campinas (sp), Martins decidiu criar o seu próprio material de estudo e oferecer aulas nas empresas. Juntou algum dinheiro e, em 1987, abriu a primeira escola Wizard na cidade. A partir dali, se apoiou no modelo de franquias para crescer. Algumas sacadas foram cruciais. Anos atrás, com mais dinheiro em caixa, ele começou a comprar os pontos para oferecê-los aos franqueados. Com isso, impedia que o parceiro cancelasse o contrato e mudasse o ponto para uma bandeira concorrente. Também foi uma das primeiras redes a ampliar o leque de opções e oferecer cursos de diversas linguas, como japonês e francês. o tiro certeiro veio em 2007, quando adquiriu a skill, com r$ 250 milhões em receita, e se distanciou da rede Fisk, a segunda maior do país. Martins conta também com o marketing em torno de seu método batizado de pirâmide de ensino, espécie de fastfood do aprendizado de idiomas. "o aluno é capaz de aprender 100 frases em uma hora", garante ele.

um episódio retrata um pouco o seu estilo de comandar o negócio. Ao completar dez anos, a Wizard bancou um encontro de franqueados em orlando, E.U.A. o grupo passou uma semana na disney. o amigo pessoal de Martins, Lair Ribeiro, esteve por lá e, no meio do encontro, um diretor teve uma ideia - na época, fenomenal. por que não montar um escritório na cidade que pudesse receber alunos do Brasil em intercâmbios? Foi alugado um prédio de dois andares na Collins Avenue, avenida das lojas e hotéis cinco estrelas. não deu muito certo. os estudantes não se interessaram. persistente, Martins tentou por três anos. "ele teve a humildade de voltar atrás e admitir que se precipitou", lembra um ex-executivo que foi à viagem. nos últimos tempos, essa habilidade tem sido mais exigida. o empresário acabou encabeçando uma disputa judicial e tornou- se alvo de críticas dos franqueados. desde 1994, ele trava uma batalha na Justiça do Paraná contra a Wisdom, rede de ex-franqueados da Wizard. "existiram franqueados que saíram da Wizard por causa da relação desequilibrada entre a empresa e os investidores nos anos 90", critica um franqueado de Martins por três anos. reclamavam, por exemplo, que o material didático acabava sendo empurrado para as unidades por meio de pacotes fechados e era preciso pagar por isso. eventuais críticas não parecem mexer com Martins.

"Hoje, o que aprendi na vida me ajuda muito mais que no passado. É mais fácil cuidar de um barquinho do que de um transatlântico."


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